Aquele cliente difícil pode ser um fofo! Acredite!
- Patrícia Mendes
- 20 de out. de 2021
- 4 min de leitura

Senta que lá vem história…
No último feriado prolongado eu estive em minha cidade, no interior de Minas Gerais.
Foi uma passagem que pouco deu para matar a saudade da terra e do povo de lá, saudade acumulada pela pandemia. Afinal, como se diz por lá, eu fui é levar chuva e frio.
Mas como a terra da gente tem aquela pegada de ter parte da gente e a gente parte dali, aconteceu um encontro interessante em uma das idas atrás de comidas típicas (pamonha, pão de queijo, é óbvio).
E eu vou contar para vocês.
Lá pelos idos dos anos 2000 eu trabalhava como secretária na Associação Comercial da cidade, hoje espero que não seja mais, mas naquela época era o para-raios do empresariado.
Então tínhamos que lidar com situações difíceis, pessoas geralmente atribuladas, estressadas, com problemas e que remetiam tudo ali.
Claro que, em se tratando de pessoas, havia gente de todo jeito.
Aquilo ali foi uma escola e uma oportunidade interessante de desenvolver algumas coisas em mim, que inclusive é meu projeto de curso (em andamento) sobre Linguagem e Atendimento no qual eu pretendo unir minha experiência profissional com minha área de estudos atual.
O material que escrevi para o curso eu finalizo com 3 histórias reais sobre como a forma de colocar as palavras e a postura do atendente tem o poder de mudar as situações de conflito no ambiente do atendimento. São histórias reais, engraçadas e instrutivas que eu vivenciei no trabalho e me marcaram bastante.
E justamente uma dessas histórias cruzou comigo nessa minha passagem por Guaxupé.
Tinha um senhor, que naquela época em que trabalhei na Associação, era considerado uma das pessoas mais difíceis de lidar, que tratava todas as pessoas muito mal, chegava nos lugares com 20 pedras nas mãos e que comigo nunca deu problema.
E ele tinha um certo poder de influência na cidade, poder esse bem acentuado junto à Diretoria da Associação, eu tive colega que foi demitida por nada, por uma ligação dele a diretores e pronto.
Ele chegava cuspindo fogo e se a pessoa não soubesse lidar, revidasse ou se deixasse levar ali na pressão ele tinha um certo prazer em fazer com que fosse demitida. Sim, eu lembro que ele se alegrava tanto quando chegava novamente ali e via que a pessoa não estava mais, ele nem disfarçava, era bem carrascão mesmo.
Como eu sempre driblava bem o "jeitão" dele, a maioria das colegas me nomearam como a atendente exclusiva daquela criatura. E acabou que deu muito certo, comigo nunca deu nenhum problema.
Pois bem, eu estava lá em Guaxupé esses dias, em um comércio, prefiro não detalhar muito para não expor as pessoas, e esse senhor chegou.
Ele me cumprimentou com um sorriso e tratou o rapaz que o atendeu com enorme gentileza e respeito, inclusive muita discrição, porque acabei sabendo que ele estava fazendo uma cobrança e isso só ficou explícito porque o rapaz que o atendia deixou transparecer, não ele.
Eu vendo aquilo, pensava, não é possível, não pode ser o mesmo. Será ele mesmo, gente?
Mas era, ele já era bem senhor naquele tempo, mas parece que o tempo passou mais para mim do que para ele. Era o próprio, impossível confundi-lo.
Fiquei pasma. Este senhor fofo ali na minha frente é o mesmo carrascão da minha história de driblar situações difíceis ao lidar com pessoas difíceis.
Quem eu contasse a história e visse ele hoje não acreditaria se tratar do mesmo homem. Juro!
E por que eu estou aqui contando isso para vocês?
Longe de mim querer ter a pretensão de me atribuir a revolução que houve no comportamento daquele homem.
Até porque eu era só uma menina de 20 anos, ousada e cheia de querer ir alinhando as coisas erradas que ia vendo pelo caminho, "do meu jeito", ora errando, ora acertando, nunca muito no padrão e nas convenções.
Então me lembro que eu via aquele homem chegando e contaminando todo o ambiente, deixando todo mundo na vibe dele, um estresse só e pensava, não, comigo não, comigo vai ser diferente, além de não conseguir estragar o meu dia (para ajudar ele gostava de ser um dos primeiros do dia, ia sempre cedinho), eu é que vou mostrar para este senhor que ele pode ser melhor e ter um dia muito melhor sendo bem atendido, eu queria inverter aquela energia pesada e negativa que ele trazia para o meu ambiente de trabalho, só isso.
Claro que não fui eu, ou melhor não fui somente eu que mudei o jeito desse homem tratar as pessoas.
Na verdade eu não sei quantas de mim foram preciso passar por ele para que ele se tornasse essa pessoa que eu vi ali, que chega em um lugar em paz e o melhor, assim é bem-vinda. Eu acredito que haja Patrícias na vida dele, rs...
Mas eu sei que todas as que fizeram o trabalho de quebrar aquela armadura com alguma dose de gentileza e doçura, fizeram um excelente trabalho para si, para ele e para o mundo que precisa de pessoas melhores.
E eu fiquei muito feliz porque eu sei que uma delas fui eu e que realmente a gente nunca perde por fazer o que acredita para o bem, seja para uma pessoa, um ambiente ou para o mundo mesmo. E que muitas vezes as pessoas precisam de estímulos em grandes doses ao longo da vida para ir melhorando.
E você pode fazer isso com tão pouco, com suas posturas, trabalhando melhor o que você fala, a forma como você responde e reage ao que vem do outro.
Enfim, a simples forma como você lida com a linguagem verbal e corporal no seu cotidiano de trabalho faz muita diferença na sua vida e na vida dos outros.
A gente fala tanto em um mundo melhor, mas o mundo só pode ser melhor se você fizer melhor e contribuir para que outras pessoas também sejam melhores.
E isso deu o gás que eu precisava para acreditar ainda mais no projeto que tenho engavetado, no qual estou trabalhando para lançar em breve.
E ao cara sinistrão, que eu precisei desarmar tantas vezes no meu cotidiano de trabalho em mais de uma empresa, inclusive (ele me perseguia, estava em todo lugar que eu ia trabalhar depois também), eu tenho que agradecer muito por tê-lo conhecido. Ele já era uma lição de exemplo prático ali no momento de lidar com conflitos no atendimento, mas agora, depois de tê-lo visto esses dias, ele é uma lição de transformação e de fé no ser humano.
O bom uso da linguagem é TUDO!
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